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01 novembro, 2013

Professor constrói forno solar para uso no Sertão do Ceará

O semiárido nordestino é definido, na maioria das vezes, como uma região seca e “castigada pelo sol”. Mas por que não pensar diferente? Um professor cearense mostrou que o sol, na verdade, pode ser uma fonte de energia capaz de substituir o gás de cozinha e a lenha.

Lúcio Galvão, químico da Universidade Estadual do Ceará (Uece), criou um forno solar barato, feito materiais reciclados que, em vez do destino ser os lixões, podem ser reutilizados de forma racional e produtiva. 

“Com o forno solar alternativo, o cozimento usa a luz do sol como fonte de energia”, explica o professor.

A temperatura do ambiente não influencia diretamente no funcionamento. O que interessa é a luz do sol, já que o forno atua como isolante térmico, bloqueando a entrada ou saída do calor do recipiente. Segundo Galvão,“cozinha em qualquer lugar, até em apartamento”.

O primeiro forno a custo quase zero foi construído pelo professor em parceria com o naturalista José Albano. A ideia era fazer algo mais simples e fácil, com papelão, cabos de vassoura e plástico. Foram três anos de experiência, levando em consideração o cozimento e a hidratação dos alimentos. 

“Depois disso, parti sozinho pelo sertão adentro para ensinar aos moradores das comunidades como construírem os seus próprios fornos”. A empreitada iniciou em 2004.

Onde tudo começa

As primeiras oficinas para a construção do forno alternativo foram realizadas na Região dos Inhamuns. Mas as práticas já foram levadas a outros municípios cearenses como Umirim e Quixadá. 

“O experimento foi parar até no Piauí, Paraíba, Rio Grande do Norte e Foz do Iguaçu”, comemora o professor.

No local da preparação, são colocados dois fornos solares para mostrar o funcionamento do utensílio em tempo real. Inicialmente, é feita uma formação teórica, explicando conceito, funcionamento, vantagens e desvantagens do uso do forno solar. 

“Enquanto explico, os alimentos vão cozinhando. Quando acaba o primeiro dia de oficina, a gente come o que estava sendo preparado no forno. Só depois disso, as pessoas acreditam que ele funciona mesmo”.

O segundo dia é destinado à prática, quando cada morador da comunidade aprende a confeccionar o próprio forno. Cerca de 20 pessoas participam das oficinas para, em seguida, multiplicarem o conhecimento.

Higiene

Alguns obstáculos culturais, no entanto, dificultam a aceitação dos moradores devido ao receio quanto à higiene do equipamento. De acordo com ele, a temperatura do forno é suficientemente alta para impedir a proliferação de microrganismos, o que garante a esterilização dos alimentos. 

“O cozimento por condução lenta de calor e em sistema fechado impede que fatores externos entrem em contato com a comida”, assegura.

Como é feito

O forno solar é uma caixa de papelão forrada de papel-alumínio, contendo uma chapa de metal pintada de preto, apoiada sobre pequenos calços de madeira. Sobre essa chapa são colocadas as panelas, também pintadas de preto, e com tampas de encaixe para reduzir a saída de vapor.

“Qualquer pessoa que tenho um mínimo de habilidade com ferramentas básicas, como martelo, serrote e tesoura, poderá montar seu próprio forno”, destaca o professor.

Vantagens

As vantagens do forno alternativo são muitas. O utensílio é uma forma de economizar na queima de combustível fóssil (gás butano), diminuir a derrubada de árvores para a formação de carvão vegetal, além de promover mais saúde. A comida cozinha lentamente e a temperaturas mais baixas, preservando os nutrientes.

O tempo médio é alto, levando cerca de quatro horas para cozinhar os alimentos. 

“Não tratamos isso como desvantagem, porque a pessoa acaba tendo tempo mais livre para fazer outras coisas. A comida não precisa ser mexida ou vigiada durante o cozimento, pois não queima”.

Tudo do próprio bolso

O equipamento já faz sucesso há cerca de 10 anos no interior do Ceará. Investimento externo não existe, apesar das tentativas com órgãos de pesquisas estadual e federal. 

“Tudo sai do bolso do próprio professor”, lamenta Galvão. “A gente não ganha dinheiro com isso. Mas o meu real objetivo é mostrar às comunidades mais distantes que é possível ter uma convivência melhor com o semiárido”, acrescenta.

Fonte:  tribunadoceara

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